terça-feira, 31 de julho de 2012

As ideias do Dr. Medina entre o melhor e o sofrível

No melhor estão as análises de como as “coisas” funcionam no país e, consequentemente, os efeitos na economia. Com efeito, o Dr. Medina refere muitas vezes que com os atuais dois partidos do poder (PS e PSD) “nunca conseguiremos chegar a lado nenhum” devido à rede de interesses instalados (poder autárquico, parcerias com privados, interesses corporativos, caciques…). Está bom de ver que não se taxa fortemente as parcerias público-privadas, com contratos leoninos, por interesses corporativos e que se continua a privatizar aquilo que dá lucro, com planos de privatização feitos à medida de interesses de grupos económicos com raízes no poder político, nem se acabam com metade dos municípios deste país que foram criados numa lógica de há 100 anos atrás onde se andava de burro através de veredas sem existência de telefone.


No sofrível está a ausência de uma visão mais global das dinâmicas e interações da sociedade. Por exemplo, não é credível que alguém esteja a defender o aumento da idade da reforma, chegando a criticar o recém-eleito Presidente Francês por ter proposto baixar a idade de reforma para os 60 anos, quando simultaneamente existe uma das maiores taxas de desemprego de sempre. Estarmos a prolongar o tempo de trabalho de alguns em que outros nem sequer têm trabalho. Não faz sentido.

Toda a nossa economia está organizada numa lógica de indústria operária com 8 horas de trabalho diário. A tecnologia tem vindo a desenvolver máquinas e processos que cada vez mais prescindem das tarefas humanas em grande escala (robotização na industria, informatização de processos, etc…). Nestas circunstâncias, há muita produção mas poucas pessoas com dinheiro para adquirir o que se produz. A solução passa por valorizar o trabalho humano com menos horas de trabalho por pessoa, idades de reforma mais cedo, investimento nas atividades produtivas de bens transacionáveis. Resumindo, colocar a tecnologia ao serviço do Homem e não o Homem ao serviço da tecnologia como se está a verificar. Nos países muito desenvolvidos as pessoas ganham muito mais e já trabalham muito menos horas.

Pelo exposto, podemos concluir que o problema da nossa economia não está no excesso de estado social como muitos querem fazer crer, mas sim na falta de um modelo de desenvolvimento do país em vez de um modelo de desenvolvimento de grupos de interesses como temos tido até agora. Como se faz isso, fica para “outra escrita” senão esta fica muito longa.